A primeira casa do projeto acaba de ser entregue para famílias de costureiros de uma cooperativa do centro de de São Paulo.
Na semana passada, o casal de costureiros bolivianos Yaneth Blanca e Ovídio Callaú, ambos de 32 anos, ganhou uma moradia digna para vivar com os filhos Diana, 9, e Juan, 4.
Yaneth e Ovídio deixaram o quarto cheio de mofo em que moravam num cortiço no Bom Retiro, na região central de São Paulo, e se mudaram para uma casa compartilhada no mesmo bairro.
O casal foi contemplado pelo Fica, fundo imobiliário voltado para famílias de baixa renda, para habitar o imóvel piloto do projeto Compartilha, que seleciona moradores de cortiços e oferece quartos em casas compartilhadas.
Crédito: DivulgaçãoA primeira casa do projeto acaba de ser entregue para famílias de costureiros de uma cooperativa do centro de de São Paulo
O antigo quarto, de 3x3m, abrigava o casal e e duas crianças, mais as máquinas de costura usadas para trabalhar. “O quarto era subterrâneo, então recebia pouca iluminação e muita umidade. Meu pai, que alugava um quarto no mesmo local, desenvolveu problemas de saúde lá. Já o banheiro era único para sete pessoas”, conta Yaneth.
A nova casa na rua Jaraguá tem três quartos e dois banheiros. Em um dos quartos (o maior, de 15 m²), estão agora Yaneth, o marido e as duas crianças.
O irmão de Yaneth é o locatário do segundo quarto, e o terceiro ficou para os pais. “Agora estamos em uma casa arejada, com janelas que entram muita luz. Temos uma sala espaçosa para caber as máquinas de costura, e o corredor e quartos grandes para as crianças correrem e brincarem”, comemora a costureira.
A casa piloto foi adquirida por R$ 280 mil pelo Compartilha, após dez investidores de impacto social investirem no projeto.
De acordo com Roberto Fontes, coordenador do projeto, esta é a primeira entrega de um cronograma que pode viabilizar lares seguros para outras 50 famílias até 2025, em uma primeira fase do projeto.
Yaneth e Ovídio vão pagar R$ 550 por mês pelo quarto deles, e as despesas como água e luz, que serão divididas entre todos os moradores da casa. É a primeira vez que terão um contrato de aluguel, com direitos e deveres entre inquilino e locatário.
A iniciativa
Lançado em setembro, o Compartilha é gerido por meio de investimentos de impacto social, que visam a aquisição de imóveis para realocar moradores de cortiços e de pensionatos da região central de São Paulo, estabelecendo-os como uma casa compartilhada. A operacionalização inclui a reforma das casas para produzir um ambiente de qualidade e de salubridade, respaldados por contratos de locação que impeçam reajustes e despejos arbitrários, e a diminuição dos aluguéis pagos em até 30% abaixo da média cobrada no mesmo bairro, conforme levantamento realizado pelo FICA.
O projeto, que faz parte da Wealth Inequality Initiative, rede global de esforços destinados ao combate às desigualdades sociais, é inédito no Brasil por introduzir a figura do proprietário social não especulativo (quando o dono do imóvel não prioriza o lucro e destina sua operação para demandas sociais), a partir de investimentos de impacto social.
A iniciativa contempla modelos financeiro, jurídico, administrativo e social, baseado em investimento de impacto social com retorno financeiro. A rentabilidade inicial foi desenhada para ser de 4% ao ano em até 10 anos, a depender do valor do imóvel. O financiamento coletivo acontece com valores a partir de R$ 10 mil e é garantido pelo próprio imóvel.
Fonte: Catraca Livre